HISTÓRIA DO INÍCIO DA
MAÇONARIA NO BRASIL
O espírito maçônico na vida brasileira é bem anterior à
implantação da Maçonaria como Instituição em nosso país.
Em 1794, Dom Azeredo Coutinho, nascido em Pernambuco, onde
foi Bispo, quando ocupava o cargo de Bispo de Elvas, em Portugal, dizia o
seguinte: “Há quase um século principiou uma Seita com a mania de civilizar a
África, reformar a Europa, corrigir a Ásia e regenerar a América”.
Este Bispo, escrevendo em 1794, dizia que a Maçonaria
surgira em 1700, o que não estava muito longe da realidade. Dizia ainda o
Bispo: “Há mais de trinta anos esta mesma seita principiou a espalhar a semente
das revoluções para separar as Colônias das metrópoles, principalmente as de
Portugal e da Espanha, as mais ricas do mundo”. É interessante destacar que o
citado Bispo, no século seguinte, filiou-se à “seita” por ele combatida.
A História nos conta que em 1787 já fermentavam os
ideais da Revolução Francesa, e que José Joaquim da Maia, nascido no Rio de
Janeiro e estudante da Universidade de Montpellier, filho de um “Mestre
Pedreiro”, servia de elemento de contato entre os Maçons brasileiros e Thomas
Jefferson, então embaixador dos Estados Unidos na França, que tinha
substituído a Benjamim Franklin não só
no cargo, mas também no trabalho de preparação das Lojas Maçônicas para a
Grande Revolução de 1889.
Não se pode afirmar que naquela altura já existisse a
Maçonaria organizada e institucionalizada no Brasil. Não existe nenhum
documento que pudesse comprovar este fato. Entretanto, pode-se afirmar que na
época já havia muitos maçons no Brasil.
Nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, volume
II, página 84 (Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro – 1936) estão as
declarações de Francisco Antonio de Oliveira Lopes, no seguinte teor: “Auto de
perguntas feitas acerca de uma carta escrita ao ministro dos Estados Unidos da
América Setentrional por um estudante do Brasil que se acha em Montpellier (não
cita corretamente o nome do estudante, que refere como José Resende) que
naquela cidade francesa conhecera dois sujeitos que se diziam ENVIADOS, um
deles filho do Rio de Janeiro, ao pé da Lapa, e que estes foram mandados por
certos Comissários daquela cidade a tratar com o embaixador da América Inglesa
sobre um levante na cidade do Rio de Janeiro”.
No mesmo Auto, Domingos Vidal Barbosa declara: “Estava
ele na Universidade de Montpellier, na qual também freqüentava os mesmos
estudos o estudante José Joaquim da Maia, natural do Rio de Janeiro, filho de
um MESTRE PEDREIRO”.
Segundo nos relata Varnhagem, havia então estreita
ligação entre o “Clube de Coimbra”, isto é, a Loja Maçônica da Universidade de
Coimbra, e os elementos maçons da Universidade de Montpellier.
Formado em Coimbra – em Ciências – José Álvares Maciel
vai a Londres, onde entra em contato com a Maçonaria Inglesa. De Londres vais a
Paris, onde recebe instruções da Maçonaria Francesa para o Brasil.
O Governador da Capitania era o Visconde de Barbacena,
também formado na Universidade de Coimbra, antigo Secretário da Academia de Ciências
de Lisboa, e que se filiara à Maçonaria na cidade das margens do rio Mondego –
a cidade de Coimbra.
Informado da existência da conspiração de Ouro Preto
por intermédio do “Irmão” Joaquim Silvério dos Reis, impediu que o movimento
prosseguisse, porque ele pertencia à dita “Maçonaria Azul” a qual, sendo
monarquista, defendia os interesses do Reino e, por extensão, os seus próprios,
por ser o Governador da Província.
Lamentavelmente, já naquela época havia este tipo de
divisão entre os maçons, tal como ainda hoje ocorre. É por isso que, por
exemplo, a maçonaria americana combate a porto-riquenha, que luta pela
libertação de Porto Rico da tutela norte-americana.
É quase certo que todos os conjurados tenham sido
Iniciados na Maçonaria, porque era intenso o trabalho dos membros da “Maçonaria
Vermelha”, ou seja, daqueles que sonhavam com a independência da pátria, os
quais, em sua maioria, eram republicanos declarados.
Isto pode ser aventado em face da circunstância de que
entre 1768 e 1788, vésperas da Inconfidência Mineira, havia cerca de 157
estudantes das diversas Capitanias luso-brasileiras que foram diplomados pela
Universidade de Coimbra. Dentre estes, podemos citar: José Vieira Couto
(Diamantina), José da Silva Lisboa (Bahia) que veio a ser o Visconde de Cayru;
Antonio de Morais Silva (Rio de Janeiro), cujo dicionário da Língua Portuguesa
é muito conhecido; Antonio Pereira de Souza Caldas (Rio de Janeiro) que foi
sacerdote, orador e poeta; Francisco de Melo Franco (Paracatu – Minas Gerais)
que escreveu a célebre sátira “Reino da Estupidez”; José Álvares Maciel (Vila
Rica – Ouro Preto) que foi um dos doze brasileiros que se comprometeram, em
reunião maçônica, a empregar todos os seus futuros esforços para alcançarem a
independência do Brasil; José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos – São Paulo)
que dispensa maiores comentários, em que pese ser um dos que alinhavam na
“Maçonaria Azul” (monarquia).
É preciso que entendamos que os inconfidentes eram
vassalos rebelados contra a monarquia portuguesa e não contra Portugal porque
todos eles eram cidadãos portugueses, alguns deles nascidos na Metrópole e
outros já nascidos no Brasil. Há que se ter em conta também que nem todos os
maçons comungavam as mesmas idéias revolucionárias. Existiam os republicanos
“Vermelhos” e os monarquistas “Azuis”, embora em menor número.
No entanto, no movimento inconfidente, estas duas
facções estavam unidas na revolução contra as tropas realistas, ou
absolutistas.
Em meados de 1821, os deputados “Vermelhos” já
tramavam nas cortes a retirada de Dom Pedro e a implantação de um sistema que
favorecesse a instauração da República nas Províncias do Brasil, que se
tornariam automaticamente independentes.
Deixando de considerar as discussões em torno dos
posicionamentos de José Bonifácio, “Azul” e monarquista constitucional, e de
Joaquim Gonçalves Ledo, “Vermelho”, republicano declarado, ficamos sem resposta
para a seguinte questão: se os “Vermelhos” de Joaquim Gonçalves Ledo tivessem
sido bem sucedidos, não teríamos o Brasil dividido em tantas Repúblicas quantas
eram as suas Províncias?
Evidentemente, todas as conjeturas sobre o assunto não
eliminam o fato de ter sido Joaquim Gonçalves Ledo o verdadeiro Patriarca da
Independência, em que pese o devermos à energia de José Bonifácio a manutenção
da unidade do Brasil. Foi a sua atuação que o levou a ser escolhido Patrono da
Ordem Maçônica no Brasil
Por outro lado, a Maçonaria no Brasil só pode ser
realmente considerada como Instituição após a formação do Grande Oriente do
Brasil.
A primeira informação oficial sobre a Maçonaria no
Brasil foi veiculada pelo manifesto que José Bonifácio dirigiu aos maçons de
todo o mundo, em 1832. Este documento histórico, redigido por Gonçalves Ledo,
informa a instalação da Loja “Reunião”, a primeira Loja Simbólica regular
brasileira, filiada ao Grande Oriente de França e que adotou o Rito Moderno ou
Francês. No ano seguinte, 1802, vamos encontrar na Bahia a Loja “Virtude e
Razão”, funcionando no mesmo Rito.
Adelino de Figueiredo Lima, baseado nestes fatos,
afirmou que a Maçonaria Brasileira é filha espiritual da Maçonaria Francesa,
acrescentando que da França veio o Rito Moderno, com o qual o nosso Grande
Oriente atingiu a maioridade.
O Grande Oriente Lusitano, tomando conhecimento destes
fatos, enviou ao Brasil, em 1804, um delegado que veio com o objetivo de
garantir a adesão e a fidelidade dos maçons brasileiros. Todavia, este delegado
não foi feliz no seu objetivo, dada a forma com que impôs as suas pretensões, e
assim resolveu deixar fundadas duas novas Lojas, submissas à Potência lusitana.
Foram as Lojas “Constância” e “Filantropia”.
Diante disso, desde o início foi semeada a discórdia
no seio da Maçonaria no Brasil, culminando com desentendimentos que levaram as
duas Lojas a “abaterem colunas”.
Na Bahia, no entanto, os maçons foram mais felizes
porque, além da Loja “Virtude e Razão”, fundada em 1802, foram fundadas mais
duas Lojas, “Humanidade” em 1807 e “União” em 1813. Isto permitiu a criação, em
1813, do primeiro Grande Oriente que, devido à Revolução de 1817, “adormeceu”,
juntamente com as suas Lojas.
Em 1809 foi fundada em Pernambuco uma Loja que viria a
servir de núcleo para mais outras três, permitindo assim a formação de uma
Grande Loja Provincial, que por questões eminentemente políticas, também
suspendeu as suas atividades, em 1817.
No Rio de Janeiro foi feita nova tentativa, com a
fundação das Lojas “Distintiva” e “São João de Bragança”. A primeira, fundada
em 1812 em São Gonçalo da Praia Grande (Niterói) e a segunda no Paço Real da corte
de Dom João VI (Quinta da Boavista), sem o conhecimento do rei. Ambas tiveram
também existência efêmera.
Finalmente, em 1815, com a fundação da Loja “Comércio
e Artes” no Rio de Janeiro, à qual se filiaram inúmeros membros da antiga Loja
“Reunião”, iniciou-se uma era mais sólida para a Maçonaria Brasileira.
A Loja Comércio e Artes somente conseguiu firmar-se
definitivamente em 1821, depois de suplantar a perseguição imposta pelo alvará
de 30 de março de 1818, de Dom João VI, que proibia o funcionamento das
sociedades secretas, que, no caso, se resumiam à Maçonaria.
Vencidas as dificuldades, reuniram-se logo na Loja
eminentes estadistas, políticos, altas autoridades e personalidades cujo
pensamento predominante era o de lutar pela independência do Brasil. Pode-se
dizer com segurança que o único trabalho da Loja, daí por diante, foi a
campanha em prol deste objetivo.
A partir de então, tornava-se indispensável que a
própria Loja se tornasse independente do Grande Oriente Lusitano. Assim, no dia
28 de maio de 1822, a convite do capitão João Mendes Viana, reuniram-se os
maçons do Rio de Janeiro em sessão magna da Loja Comércio e Artes, com o
objetivo de instalarem o Grande Oriente do Brasil. A exigência da existência de
três Lojas, levou os Irmãos a fundarem mais duas Lojas nesta mesma sessão. São
elas: a “União e Tranqüilidade” e a “Esperança de Niterói”.
Foi lavrada então a competente Ata de fundação do
Grande Oriente do Brasil, que na época não teve Carta Constitutiva concedida
por nenhuma outra Potência Maçônica.
O reconhecimento do Grande Oriente do Brasil como
Potência Maçônica Regular veio a ser feito posteriormente pela Grande Loja da
Inglaterra, mais de 100 anos depois. Mas isto é outra história.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ASLAN, Nicola – Biografia de Joaquim Gonçalves Ledo –
Tomos I e II – Edit. Maçônica – Rio de Janeiro
D’ALBUQUERQUE, A.Tenório – A Maçonaria e a
Inconfidência Mineira – Editora Espiritualista – Rio
José Bonifácio – O Falso Patriarca – Editora Aurora – Rio de Janeiro
FERREIRA, Tito Lívio – A Maçonaria na Independência do
Brasil – Tomos I e II – Gráfica Biblos – S. Paulo
LIMA, Adelino de Figueiredo – Nos Bastidores do
Mistério - Editora “O Malhete” 2ª
Edição – S. Paulo
PROBER, Kurt – História do Supremo Conselho do Grau 33
do Brasil – Vol. I – Livraria Kosmos Editora – 1981 – Rio de Janeiro.