OS MISTÉRIOS NOAQUITAS
Depois de nós o Dilúvio.
- Luís XV
OS NOACHIDÆ
Avançando
na investigação da origem histórica da Maçonaria se faz pertinente uma
introdução a alguns questionamentos sobre o caráter de seu simbolismo. Nesse
intuito, a fim de cumprir alguma expectativa de prestar justiça ao tema, torna-se
evidente a necessidade de adotar como ponto de partida uma época tanto remota.
Deve-se, no entanto, revisar a história antecedente e inicial da Ordem com tanta disponibilidade quanto
um entendimento satisfatório do assunto possa requerer.
Adotando,
sobretudo, o ocorrido na história Antediluviana
do mundo, como algo importante tanto quanto concerne a essa questão, qualquer
influência sobre o novo mundo que oriunda das ruínas do antigo pode ser
localizada logo após os eventos do cataclismo. Os descendentes imediatos de Noé tinham posse de pelo menos duas
verdades religiosas recebidas de seu pai comum e possivelmente derivadas da
linhagem de patriarcas que o precederam. Essas verdades foram à doutrina da
existência de uma Inteligência Suprema,
Criadora, Preservadora e Governadora
do Universo e como consequência
necessária, a crença na imortalidade da alma. Alma,
que, como uma emanação da causa primordial, deveria ser perenizada, por uma
vida futura e infindável além do pó vil e perecível que constituiu seu
tabernáculo terreno.
A
afirmação de que essas doutrinas eram conhecidas e reconhecidas por Noé não surge como uma conjetura para o crédulo
na revelação divina. Mas se concebe que qualquer mente filosófica deva chegar à
mesma conclusão independente de qualquer outro fator que não seja a pura razão.
O
sentimento religioso, até atualmente ao menos, no que se refere à crença da
existência de Deus, parece estar em
algum sentido inato ou instintivo e consequentemente universal, imbuído na
mente humana. Não há registro de qualquer nação, no entanto, intelectual e
moralmente rasa, que não tenha dado algum indício de uma tendência para tal
crença. O sentimento pode ser pervertido, a ideia pode ser grosseiramente
corrompida, mas não obstante existe e evidencia a fonte de onde se origina.
Mesmo nas
formas mais degradantes de fetichismo, onde os incivilizados se ajoelham em
temor reverencial diante do santuário de algum ídolo tosco e disforme que talvez
tenha sido feito com suas próprias mãos. O ato de adoração, degradante como a
questão possa vir a ser, é, no entanto,
um reconhecimento do necessário desejo do adorador de contar com o auxílio de algum poder
desconhecido superior a seu próprio âmbito. E este poder desconhecido, seja ele
qual for, é para ele um Deus.
Como tal,
tem sido universal a crença na imortalidade da alma. Isso decorre do mesmo
desejo do homem para com o infinito, e embora, como doutrina ancestral, tem sido
pervertida e corrompida, ainda perdura entre todas as nações a tendência para
sua crença. Todas os povos, desde os tempos mais remotos, tenderam
involuntariamente para o ideal de um outro
mundo tentando encontrar um lugar para os espíritos dos mortos. A
deificação e culto aos mortos, sábios ou heróis foi à evolução seguinte da
ideia religiosa depois do fetichismo, era simplesmente um reconhecimento da
crença em uma vida futura, pois o morto não poderia ter sido divinizado após seu
fim, a menos, que eles tenham continuado a viver de algum modo. A adoração de
um cadáver pútrido teria sido de alguma forma um fetichismo mais baixo e
degradante do que qualquer outro que se tenha conhecimento. Mas o culto humano adveio
após o fetichismo. Era um desenvolvimento maior do sentimento religioso, e implicou
numa possível esperança para nada menos que uma positiva crença numa vida
futura.
Razão
esta que, assim como uma revelação, leva à conclusão irresistível de que essas
duas doutrinas se preservaram entre os descendentes de Noé após o Dilúvio. Acredita-se
também, que toda a sua pureza e integridade foram preservadas, já, que elas
foram obtidas a partir da fonte mais elevada e pura possível.
Estes são os ensinamentos que ainda constituem
os preceitos da Maçonaria, e,
portanto, um dos nomes imputados aos maçons desde os primeiros tempos foi o de "Noaquitas"
ou "Noachidæ " isto é, os descendentes de Noé (Noah) e os transmissores de seus princípios sagrados.
- Albert G. Mackey (The Symbolism of Freemasonry)
A TRADIÇÃO NOAQUITA E O OFÍCIO
Quando
Seth, filho dileto de Adão, recebera título de Primeiro Maçom por sua descendência
erigir às primeiras Colunas[1]
sagradas para registrarem os conhecimentos da época, além de principiarem
invocações o nome de Deus, a Ofício da Maçonaria[2]
tornou-se o símbolo da construção do edifício social que é o gênero humano[3].
Seth gerou a Enosh, que gerou a Cainã, que gerou a Maalalel que gerou a Jared,
que gerou a Enoque, que gerou a Matusalém que gerou a Lamech, que gerou a Noé.
Por
isso os ascendentes e descendentes de Noé,
estão geralmente conectados a alguma da lenda do Ofício, pois segundo a Tradição
Maçônica mais antiga, Noé foi
escolhido por Deus para reformar o Edifício Social Terreno, da mesma forma
que Moisés instituiu a ideia da Fraternidade Terrena[4].
Atualmente
é a ideia de uma grande inundação ou dilúvio de proporções mundiais passou a
ser mais facilmente aceita. Este evento não seria uma mera alegoria bíblica,
mas algum tipo de evento climático e/ou geológico. Além disso, diversas outras
tradições antigas fazem referências a tal evento de consequências tão drásticas
e marcantes a humanidade[5].
Muitos
historiadores acreditam que as informações sobre o dilúvio, contidas na Bíblia, foram copiadas de tradições
mesopotâmicas. Existem lendas muito antigas (e mais remotas que a própria Bíblia), que falam de um rei babilônico,
chamado Utmapishtin, que durante o
dilúvio havia construído uma grande arca e nela se encerrou com sua família,
servos, artesãos além de um grande rebanho de animais. Sua arca flutuou por
dias a fim e finalmente aportou no cume de uma montanha. Nessas lendas fala-se
também da pomba e do corvo que ele teria soltado para se certificar se as águas
do dilúvio haviam baixado.
Uma
tese divulgada pelo alquimista Fulcanelli,
sustenta que a Arca de Noé, na
verdade, é um lugar onde as pessoas teriam se refugiado para resguardarem-se das
águas do dilúvio. Seria um local de grande altitude, provavelmente nos picos de
uma cadeia montanhas familiares, e que esse período de refúgio teria durado por
cerca de dois séculos.
Segundo
James Anderson, o primeiro homem a
receber o título de Maçom que teria
sido Seth, terceiro filho de Adão, que junto a sua descendência teria laborado as
primeiras obras em honra a Deus.
Tais
obras simbolizam o labor maçônico da construção do Edifício Social, qual habitaria Deus.
Tal referido Edifício, seria o
próprio gênero humano, que segundo a
tradição bíblica, foi reconstituído a partir dos descendentes de Noé. Seus filhos Sem, Cam e Jafet deram origem aos Semitas (os povos do Oriente Médio) aos Camitas (povos da África) e aos Jaféticos, também conhecidos como
arianos.
Por
isso que os Maçons Operativos antes
da reforma institucional fomentada por James
Anderson costumavam eventualmente chamar a si mesmos de Noaquitas. Professavam uma Lenda segundo a qual os filhos de Noé, Sem,
Cam e Jafet, após a morte do patriarca, desejosos de descobrir o segredo
pelo qual seu pai tornara-se predileto o Deus,
foram ate a sua tumba e exumaram o seu cadáver. Vendo que o corpo estava quase
decomposto, pegaram-no pelo dedo, atestando que sua carne se desprendia dos
ossos e seu cadáver putrefava. Depois o levantaram ombro contra ombro, cotovelo
contra cotovelo, pé contra pé, peito com peito, face com face, mãos nas costas
e gritaram “Oh! Senhor meu Deus!”. E
depois de testemunhar que ainda havia tutano nos ossos, concordaram que deviam
dar ao acontecido uma palavra-código.
Essa ritualística seria reencenada após o assassínio do próprio Hiram com o seu corpo, ou ao menos,
reaproveitada na elaboração de sua Lenda,
e representa a passagem do Companheiro
para Mestre nos graus maçônicos.
Conta-se
que os descendentes de Noé, não confiando
plenamente na promessa de Deus
expressa através do arco-íris, de que não haveria outro Dilúvio sobre a terra, intentaram construir uma torre para se
abrigarem, caso ele resolvesse castigar novamente a humanidade por esse meio.
A
partir dessa Torre[6]
desenvolveu-se uma cidade, onde seu rei Ninrod,
“poderoso caçador perante o Eterno”,
segundo a Bíblia, começou a fazer a
distinção entre os homens, atribuindo a cada um seus direitos e deveres. A essa
cidade ele chamou de Babel, pois essa era a comunidade de todos os povos. Em
outras tradições, a Torre de Babel ainda
aparece como um santuário principiado antes do Dilúvio que visaria alcançar os céus.
O
que se pretende, no entanto, no ensinamento desta Lenda, é alertar o Iniciado
contra os sentimentos de arrogância, malícia, infidelidade, vaidade e orgulho.
Por isso as referencias á Torre de Babel,
tendo em vista que tradicionalmente ela é vista como sendo um monumento erguido
para dar vazão ao sentimento de orgulho e vaidade dos homens. A outro exemplo
bíblico similar, aludem às cidades de Sodoma
e Gomorra, símbolos da corrupção,
perfídia e arrogância humana que foram por isso mesmo, destruída por Deus.
Já
houve o tempo em que essa primazia dos ensinamentos maçônicos, como observado
no Poema Regius, cabia á “Torre de Babel”
(em detrimento ao Templo de Salomão),
sendo o rei Ninrod[7]
e não Salomão, o primeiro monarca a patrocinar a Maçonaria Operativa. Diz-se que foi aquele rei que primeiro dividiu
os trabalhadores da construção em aprendizes, companheiros e mestres, criando
palavras de passe, toques e outras formas de distinção entre suas graduações.
O DILÚVIO[8]
O
Torá judeu (o Pentateuco do Velho
Testamento da Bíblia cristã)
contém duas versões do Dilúvio, cada
uma contando uma história parecida, mas significativamente diferente quanto ao
relato de Noé e de sua Arca. Acredita-se que as histórias se
originem de duas tradições orais diferentes que foram identificadas como
próprias de todo o Torá. Essas
tradições foram separadas por estudiosos que as identificaram como a tradição de J (Javé), a tradição E (Elohim) e a tradição P (Pastoral). Dizem que a tradição J tem sua origem no sul de Israel, a tradição E, no norte e a tradição
P, no Exílio.
Há
diferentes opiniões quanto à duração da inundação, mas o mais importante é que J afirma que a chuva foi à causa do Dilúvio, enquanto P diz que "fontes da profundeza" surgiram e invadiram a
terra antes da chuva começar. Essa fundamental diferença na causa do Dilúvio pode ser uma dissonância no
relato da história, mas é possível que as duas versões estejam corretas, porque
provêm de testemunhas que presenciaram ocorrências de diferentes pontos. As
duas tradições orais foram combinadas em uma única história cerca de 3 mil anos
atrás, portanto parece bem provável que foram originadas por fontes diversas.
Se elas provêm de relatos proporcionados por testemunhas oculares
fundamentalmente diferentes, as pessoas envolvidas deviam encontrar-se em
locais bem afastados uns dos outros, uns mais ao interior que os outros. Segundo
a tradição J, o Dilúvio durou 40
dias, enquanto a tradição P diz que
durou 150 dias e é a única a nomear o lugar onde a Arca veio a aportar.
A
história do Dilúvio consta no Livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, que explica a origem do homem.
Começa dizendo como Deus fez o mundo
e depois criou Adão e Eva, que logo caíram em desgraça e foram
expulsos do Jardim do Éden. Em seguida,
conta a história dos irmãos Caim e Abel, e apresenta uma genealogia de Adão até Noé. Depois, em Gênesis 6:4, há um estranho relato a respeito de um
cruzamento entre uma raça descrita como "os filhos de Deus", e
mulheres humanas, “as filhas do Homem”.
Nesse
tempo, isto é, quando os “filhos de Deus”
se uniram com as “filhas do Homem” e
geraram descendência, os gigantes[9] que
habitavam a terra. Esses foram os heróis famosos dos tempos antigos. Essa breve
passagem é a primeira de muitas referências hebraicas antigas que registram
que, em certa época, acreditava-se amplamente que os filhos do cruzamento entre
essa raça desconhecida chamada "Guardiões"
e mulheres humanas foram gigantes, tornando-se figuras reinantes no passado
distante.
Depois,
o Gênesis diz que Deus decidiu punir a humanidade, entretanto
avisa Noé do Dilúvio vindouro e o instrui para construir uma Arca de madeira de cipreste que o
transportaria com sua família, assim como um casal de cada espécie de animais.
Segue, então, a descrição do Dilúvio
que erradica a vida na Terra.
De
acordo com a tradição P, as dimensões
da Arca eram de 300 x 300 x 30 côvados e consistia de três andares,
também informa que o ponto onde ela aportou após que as águas baixarem, o Monte Ararat, em Urartu, conhecida hoje como Armênia. Essa região extremamente
montanhosa ao leste da Turquia tem
uma elevação média de quase 1.800 metros e o Monte Ararat encontra-se no ponto mais alto, mais de 4 mil metros
acima do nível do mar. Se essa descrição estiver correta, a Arca só pode ter sido levada para essa
região elevada por uma imensa onda oriunda da direção do Oceano Índico. O caminho percorrido deve ter sido pelo Golfo
Pérsico e para noroeste através das planícies da Mesopotâmia.
Se
for assumido que haja alguma verdade nessa história, ela sugere que a Arca foi atingida pela onda em algum
lugar bem elevado das Montanhas de Zagros, acima da região que mais tarde ficou
sendo conhecida como Suméria, e foi
levada em linha reta até a onda perder potência.
A ARCA
O
documento catalogado como lQapGen dos Manuscritos
do Mar Morto, conhecido como “Contos dos Patriarcas”, agrega maiores detalhes
à história do Dilúvio. É dito que o
personagem chamado Enoch estava
envolvido com Lamech e Noé. Nomes conhecidos em meio a Tradição os Rituais Maçônicos, assim
como na Bíblia. Aparentemente, Lamech estava preocupado com o
"comportamento glorioso" de seu filho Noé, e suspeitava que sua mulher tivesse sido germinada pelos “Guardiões”[10],
sendo Noé o resultado de tal relação.
Lamech decide consultar seu pai, Matusalém, sobre essa questão, que
possua vez a leva ao conhecimento de Enoch.
Matusalém indaga ao pai sobre Noé e Enoch lhe conta como os Guardiões
desceram do céu para relacionar-se com mulheres humanas, mas que Noé não tinha nascido dos “filhos de Deus”, mas sim de Lamech.
A
história então continua para dizer como Noé
era o mais correto dos homens e, por conseguinte, seria dado a ele o domínio
sobre toda a Terra após o Dilúvio. Em seguida, a história é
assumida por Noé, que conta como
pousou em um vinhedo no Monte Ararat
depois da inundação.
Enoch (cujo nome quer dizer “iniciado”,
“dedicado” ou “disciplinado”) era detentor de muitos conhecimentos e talentos
os quais lhes foram transmitidos por intermédio divino, além disso,
eventualmente tinha sonhos sobre o futuro. Durante um desses sonhos, Enoch conheceu o verdadeiro Nome de Deus, que lhe foi proibido de revelar,
e noutro, foi-lhe conhecido o cataclismo que em breve assolaria a humanidade e
que seria denominado como o Dilúvio. Enoch, então, decidiu preservar de
catástrofe o verdadeiro Nome de Deus,
fazendo-o gravar em uma Pedra Triangular (ou
Delta) de ágata em certos caracteres sagrados. Enoch construiu um templo debaixo da terra, consistindo em nove
abóbodas, sustentadas por nove arcos, depositando na mais profunda, o triângulo
de ágata e na entrada da primeira, duas Colunas, fechando a entrada com uma
grande pedra quadrangular, provida de uma argola de metal no seu centro para
que pudesse ser removida[11].
Enoch também gravou em outras duas
Colunas[12],
sendo uma de mármore e outra de bronze, os princípios em que se baseavam as ciências
e artes da época a fim de que também fossem herdados pelas próximas gerações.
Por fim, Enoch instruiu a seu filho Lamech para que em seu nome revelasse a Noé (seu neto) a vindoura catástrofe que
se abateria sobre a humanidade. Noé
então, também por intermédio divino passa a construir uma Arca segundo instruções sagradas, Arca que serviria como plataforma onde ele e sua família se
resguardariam das águas que perdurariam por 40 dias. Tais instruções seriam
reproduzidas na Arca da Aliança, pelo
seu formato e medidas, portanto, também eram as especificações da sessão
interna do Templo de Salomão, e mais
especificamente, do "Sanctus
Sanctorum", por conseguinte são as especificações para a construção
das Lojas Maçônicas.
O
material com qual foi confeccionado a Arca
da Aliança teria sido “madeira de acácia e ouro”, entretanto, a acácia, é uma
árvore de dimensões relativamente pequenas e certamente, inviáveis para
construir obra de tal magnitude como a Arca
de Noé. Essa Arca teria as suas medidas aferidas por Deus: "Faze uma Arca de
tábuas de cipreste; nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por
dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento
de cinquenta a largura e a altura de trinta..." (Gênesis 6:14-15).
A
construção da Arca, devido a sua magnitude e dificuldades técnicas
adversas, obviamente, deve ter levado bastante tempo, pois, apenas Noé e sua família naquela região, creram
no que Deus havia instruído. A Arca de Noé, após iniciado o Dilúvio e o crescimento das águas, suportava,
além da espécie humana, a espécie animal como vem descrito em Gênesis 6:18-22: "Contigo, porém, estabelecerei a minha
Aliança; entrarás na Arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de
teus filhos, De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e
fêmea, farás entrar na Arca para os conservares vivos contigo; das aves,
segundo as espécies, de todo réptil da Terra segundo as suas espécies, dois de
cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo de tudo o
que se come, ajunta-o contigo, ser-te-á para alimento, a ti e a eles".
As
espécies mencionadas, possivelmente, seriam, apenas, as existentes naquela
região, também, por outro lado, não há menção a destruição dos homens gentios,
ou seja, aqueles que não pertenciam à família de Noé. Embora os filhos de Noé
tivessem casado com as filhas da Terra
que eram formosas, consequentemente não haveria uma destruição total das
espécies humana e animal.
Então,
filhos e filhas descenderam de Noé
depois do Dilúvio. Para Sem, o filho mais velho, nasceu primeiro
Arparchad, dois anos depois do Dilúvio. Todos os filhos de Sem foram Elam, Ashur, Arparchad, Lud, Aram e cinco filhas.
Além disso, os filhos de Cam foram Cush, Mizrain, Put, Canaã e sete filhas. Os filhos de Jafé foram Gomer, Magog, Madai, Javan, Tubal, Moshok, Tiras e quatro filhas.
Tendo
em conta as impossibilidades ou incongruências quanto relativas à narrativa
noaquita (apesar da persistência de evento similar em outras culturas além de
certas evidências que sugerem tal dilúvio), a Arca se constitui, sobretudo, em uma alegoria. Tal narrativa deve ser observada mais pelo
ensinamento simbólico que pela veracidade histórica, e tal simbolismo é
especialmente trabalhado num certo grau da
Tradição Maçônica.
O GRAU NOAQUITA
Os
trabalhos do Grau Noaquita
desenvolvem-se em uma Câmara que
representa uma paragem remota, seu momento é o da lua cheia (e suas sessões são
realizadas de 28 em 28 dias como os ciclos lunares) que provém a iluminação a
tal Câmara através de uma janela. A
hora do início dos trabalhos na Oficina
é quando a Lua aparece e a do
encerramento, quando o Sol está por
surgir.
O
Trono do Presidente é coberto por um tecido negro. Defronte ao Dossel vê-se um Triângulo de prata atravessado por uma flecha dourada e no solo
estão espalhados às ruínas e escombros de um edifício desmoronado.
Os
presentes carregam ferramentas diversas apropriadas à construção, e o Presidente empunha um "cabo de trolha", o local onde se
reúnem denomina-se de Grande Capítulo.
A
Cerimônia desse Grau relaciona-se com a história da salvação de Noé na Arca, a construção da Torre
de Babel, o trágico destino de seu Arquiteto
e o descobrimento de uma Coluna que
em caracteres sumérios tinha gravada a história da construção da Torre e o arrependimento de tal Arquiteto.
O
desenvolvimento deste alicerça-se no combate ao orgulho, à vaidade e ao
egoísmo. São feitas aos Candidatos
nove perguntas qual o Ritual dá
respostas:
1ª Pergunta:
Qual é a paixão que mais se opõe ao reinado da Igualdade e da Justiça?
2ª Pergunta:
Qual a diferença entre a vaidade e o orgulho?
3ª Pergunta:
Qual a distinção entre o orgulho e o egoísmo?
4ª Pergunta: O orgulho
é o pai do egoísmo?
5ª Pergunta: O
que significa a Humildade?
6ª Pergunta:
Qual é o sentimento contrário ao orgulho?
7ª Pergunta:
Qual a distinção entre desejo e paixão?
8ª Pergunta: Se
as paixões não passam de desejos exagerados nascidos dos instintos, sentimentos
e dons concedidos pelo Grande Arquiteto do Universo para nossa conservação e a
de nossa espécie, não haveria uma maneira de fazer com que cada paixão se
convertesse em Virtude?
9ª Pergunta: Se
a Natureza produziu o homem bom e a educação defeituosa é que o torna mal,
quais as Leis que proporeis para que cada um possa conhecer seus deveres e
direitos, dominando suas paixões?
Uma
história tradicional desse grau conta como Deus
fez com que Peleg ficasse mudo por
tentar construir uma torre até o céu quando trabalhava como arquiteto-chefe de Ninrod. Dizem que Peleg era um descendente de Noé.
Ninrod foi o personagem do Gênesis, descrito como "o primeiro
potentado sobre a Terra", e como neto de Noé. Dizem que ele foi um edificador de impérios cujos domínios
incluíam grandes áreas do Sul da Mesopotâmia.
Alguns estudiosos identificam Ninrod
como Gilgamesh. A história desse
ritual é contada nesse grau por um oficial da Loja chamado Cavaleiro da
Eloquência:
Que todos os
maçons saibam que, apesar da recente vingança de Deus, devido às iniquidades da
humanidade, por meio de um dilúvio universal, e apesar de Deus ter
proporcionado o arco-íris em sinal de reconciliação, garantindo o favor
declarado de que o mundo não seria novamente destruído pela água. Os
descendentes de Noé, por sua falta de fé na providência divina e apreensivos
por um segundo dilúvio, disseram “Vamos construir uma cidade, cujo pico alcance
os céus, e vamos dar-lhe um nome para que não sejamos espalhados em toda a face
da Terra”. Para realizar seus intentos, eles começaram a erigir uma alta torre
na planície de Sinar, mas esse empreendimento não agradou a Deus, pois tendia a
frustrar ou atrasar a execução de seu próprio projeto. E, para que a humanidade
não se mantivesse sempre junta, os obrigou a descontinuar aquele projeto
confundindo sua linguagem, de forma que ninguém se compreendia. Dessa
circunstância, a cidade assumiu o nome de Babel, que significa confusão, e
assim iniciou-se a dispersão das pessoas e o estabelecimento de nações. Foi em
uma noite de Lua Cheia que o Deus realizou essa obra, em memória da qual os
noaquitas guardam suas Lojas nesse momento.
O arquiteto da
obra chamava-se Peleg, ou pelo menos foi ele quem havia fornecido a ideia dessa
construção. Como castigo dessa contumácia e a presunção de seus irmãos, ele foi
privado da palavra, e para evitar os ultrajes de seus companheiros que o
consideraram a causa do fracasso do projeto, ele viajou para terras longínquas
a Sinar, fez isso durante a noite temendo se atacado, caso fosse reconhecido.
Seu lugar de retiro foi a Prússia, onde erigiu uma morada triangular. Por sua
humilhação e contrição pelo ocorrido que
o envolveu na Planície de Sinar, obteve a remissão de seus pecados e a palavra
lhe foi restaurada. Essa morada de Peleg foi descoberta a 15 cavados de
profundidade da superfície da terra, no ano 553 a.C.
DE NOÉ A HIRAM
É
importante notar o valor dado à narrativa noaquitas pelos primeiros Maçons Especulativos, o próprio James
Anderson em sua Constituição já
evidencia tal fato:
Um Maçom é
obrigado na sua dependência a observar a Lei Moral como um verdadeiro Noaquita,
e se entendeu corretamente o Ofício, nunca será um estúpido descrente, nem um
libertino irreligioso, nem agirá contra a sua Consciência. Nos tempos antigos
os Maçons cristãos eram obrigados a concordar com os usos cristãos de cada país
por onde viajavam ou trabalhavam, mas sendo a Maçonaria fundada em todas as
Nações, mesmo as que praticam várias religiões, são eles agora unicamente
obrigados a aderir àquela religião na qual todos os homens estão de acordo
(cada Irmão vivendo em sua própria e particular opinião), que é a de serem
homens bons e sinceros, homens honrados e probos, quaisquer que sejam as denominações,
religiões ou crenças que possam distingui-los, por estarem todos de acordo com
os três grandes artigos[13]
de Noé, que são suficientes para preservar o Cimento da Loja. Assim a Maçonaria
é o Centro de sua União e o Feliz Meio de conciliar pessoas que teriam ficado
perpetuamente separadas.
Ao
saírem da arca, Deus estabeleceu com Noé e seus filhos uma aliança que
envolvia a observância de sete leis básicas conhecidas como Leis Noaquitas, obrigatórias
a toda humanidade[14],
as Sete Leis de Noaquitas são:
1. Não cometer idolatria;
2. Não assassinar;
3. Não roubar;
4. Não cometer imoralidades sexuais;
5. Não blasfemar;
6. Não maltratar aos animais;
7. Estabelecer sistemas e leis de honestidade
e justiça.
Noé ainda figura em um antigo e
importante documento maçônico, uma Antiga Obrigação ou Old Charge conhecida como o “Manuscrito
Graham” onde acontece uma ritualística post-mortem
tal qual ensinado, foi realizado com Hiram
Abiff:
É sabido pela
Tradição, e também por referência às Escrituras, que dizem que Sem, Cam e Jafé,
desejosos de chegar junto à tumba de seu pai Noé, trataram de ver se poderiam
encontrar ali algo suscetível de lhes conduzir ao segredo do poder detido por
esse famoso pregador. De fato, desejo que todos venham, a saber, que todas as
coisas necessárias ao mundo novo se encontravam na Arca junto a Noé.
Pois bem, estes
três homens já tinham acordado que, se não encontrassem o que procuravam, o que
primeiro encontrassem deveria lhes servir como segredo. Não duvidavam, mas sim
acreditavam muito firmemente que Deus tinha o poder, e também manifestaria sua
vontade por meio de sua fé, oração e obediência, de maneira que aquilo que
encontrassem se mostraria ante eles tão potente como se tivessem recebido o segredo
original do próprio Deus.
Chegaram então
à tumba, onde não encontraram nada mais que o cadáver quase inteiramente
decomposto. Quando puxaram-lhe por um dedo, este se desprendeu falange por
falange, e o mesmo ocorreu com o punho e com o cotovelo. Então levantaram o
cadáver e o sustentaram, pondo pé contra seu pé, um joelho contra seu joelho, o
peito contra seu peito, uma face contra sua face, e uma mão em suas costas, e
ficaram a rogar: Ajuda, Oh Pai, como se dissessem: Oh, Pai do céu, nos ajude
agora, porque nosso pai terrestre já não pode fazê-lo.
Então, deixando
de novo o cadáver, e não sabendo o que fazer, um deles disse: Há medula neste
osso[15],
e o segundo disse: Mas é um osso seco, e o terceiro disse: ele putrefaz.
Ficaram de acordo então para lhe prestar uma
palavra que fora conhecida pela Maçonaria até estes dias. Depois, se
detiveram a seus assuntos e a partir de então suas obras foram boas. É por isso
se deve acreditar, mas também compreender, que seu poder não vinha do que
encontraram ou da palavra que lhe prestaram, mas sim de sua fé e de sua oração.
As coisas se sucederam desde modo, e a vontade deu firmeza à ação.
Se for levado considerado que tanto Noé quanto Hiram possuam algum grau de validade histórica, é possível inferir
qual tal cerimônia ou rito de passagem com o corpo do morto a fim de transmitir
seus conhecimentos (ou palavras) perdidos deve ter origem Antediluviana. Sem, Cam e
Jafé a aplicaram em Noé a fim de
que se perpetuasse a Tradição assim
como Johaben, Stolkin e Zerbal fizeram
com Hiram.
Ou
se considerarmos ambas as histórias como de cunho puramente alegórico, podemos
inferir que esse elemento da narrativa sobre Noé foi enxertado na Lenda do
Assassínio de Hiram a fim de sinalizar a importância e pertinência do nobre
patriarca noaquita e seu exemplo de perseverança e retidão para a Tradição Maçônica...
Autoria de Tiago Roblêdo M\ M\
Visita Interiora Terrae
Rectificando Invenies Occultum Lapidem
REFERÊNCIAS
A Máquina de Uriel,
Christopher Knight e Robert Lomas
Rito Escocês Antigo e Aceito
Loja de Perfeição, Rizzardo da Camino
Mestres do Universo: A Maçonaria
dos Graus Superiores, João Anatalino Rodrigues
[1]
As Colunas dos filhos de Seth são dois
pilares que teriam sido criados pelos descendentes de Seth e nas quais foram
inscritas descobertas científicas, invenções, principalmente no campo da
astronomia. Tal feito repete-se nas Tradições
Maçônicas por autoria de outros personagens como Enoch. Tais construções sagradas se oporiam a Primeira-Cidade,
erigida por Caim e batizada com o
nome de seu filho Enoch (personagem
distinto daquele da linhagem de Seth)
como forma de afrontar a Deus que o
teria condenado ao nomadismo.
[2] Aqui no
sentido de arte, ciência ou ofício que interliga os aspectos operativos e
especulativos nas suas construções.
[3] O filho de Seth chamado Enosh (“homem mortal” ou “ser humano”) sugere uma alegoria à
paternidade da própria humanidade (Enoshut)
a este personagem. Nos tempos de Enosh
é dito terem se iniciado as invocações ao nome de Deus (Gênesis 4:26).
[4] Ou seja, a
nação de Israel.
[5] Os livros
sagrados da índia e dos povos mesopotâmicos mencionam esse fato. Na tradição
vedanta, Noé é chamado de Vaisaswata ou Satiavrata. Nas lendas gregas ele é
Deucalião. Os caldeus o chamavam de Xi-xouthros e os chineses de Fo-ki. Nas
lendas americanas ele era Bochica, “o que se salvou das grandes águas.”.
[6]
Historicamente,
acredita-se que a chamada Torre de Babel seja um dos “zigurates”, torre que os
sacerdotes caldeus costumavam construir para fins de observações astrológicas.
A religião dos israelitas condenava a prática da astrologia e da astronomia,
razão pela qual ela foi estigmatizada na lenda da Torre de Babel.
[7]
Ninrod por muito vezes é
identificado como o nome bíblico para Gilgamesh,
descendente de Utmapishtin.
[8]
De
maneira geral, acredita-se que as versões da história do Dilúvio no Velho
Testamento estejam intimamente relacionadas com as histórias mais antigas da
Babilônia e da Suméria. A visão padrão é que a história de Noé foi apreendida
diretamente das histórias da Babilônia, ou então ambas foram originadas de uma
mesma fonte.
[9] Os Nefilim ou Giborim.
[10]
Seres
também conhecido como “Vigilantes”, possivelmente foram Elohim (seres celestiais da cultura judaicas) que se renegarem a
passaram a coabitar com as “filhas do Homem” dando origem a raça dos gigantes.
[11]
Posteriormente
tal Templo e fragmentos de seu conteúdo seriam encontrados durante a construção
do Templo que Salomão que seria erigido sob o mesmo local.
[12]
Das
Colunas gravadas por Enoque, apenas a de bronze chegou à posteridade, pois a de
mármore foi destruída pelas águas. Nenhum ser humano podia pronunciar o Nome
verdadeiro de Deus, antes que fosse revelado a Moisés, no Monte Sinai.
[13]
Entre
as sete leis noaquitas, as três são particularmente essenciais: proibição de
render culto aos ídolos, respeito absoluto pelo nome divino e proibição de
derramar sangue.
[14]
Posteriormente,
os judeus seriam separados como povo sacerdotal e guardião da Torá, e por isto
mesmo sujeito a outros mandamentos além das Sete Leis de Noaquitas.
[15] Em inglês “Marrow
in this bone”, em alusão a palavra de mestre.
Fonte:
http://pedraoculta.blogspot.com.br/2013/11/o-diluvio-sobre-pedra-o-hiram-da-arca.html