OS MISTÉRIOS NOAQUITAS - TEMPLO MAÇÔNICO

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OS MISTÉRIOS NOAQUITAS

OS MISTÉRIOS NOAQUITAS
Depois de nós o Dilúvio.
- Luís XV


 OS NOACHIDÆ
Avançando na investigação da origem histórica da Maçonaria se faz pertinente uma introdução a alguns questionamentos sobre o caráter de seu simbolismo. Nesse intuito, a fim de cumprir alguma expectativa de prestar justiça ao tema, torna-se evidente a necessidade de adotar como ponto de partida uma época tanto remota. Deve-se, no entanto, revisar a história antecedente e inicial da Ordem com tanta disponibilidade quanto um entendimento satisfatório do assunto possa requerer.
Adotando, sobretudo, o ocorrido na história Antediluviana do mundo, como algo importante tanto quanto concerne a essa questão, qualquer influência sobre o novo mundo que oriunda das ruínas do antigo pode ser localizada logo após os eventos do cataclismo. Os descendentes imediatos de Noé tinham posse de pelo menos duas verdades religiosas recebidas de seu pai comum e possivelmente derivadas da linhagem de patriarcas que o precederam. Essas verdades foram à doutrina da existência de uma Inteligência Suprema, Criadora, Preservadora e Governadora do Universo e como consequência necessária, a crença na imortalidade da alma. Alma, que, como uma emanação da causa primordial, deveria ser perenizada, por uma vida futura e infindável além do pó vil e perecível que constituiu seu tabernáculo terreno.

A afirmação de que essas doutrinas eram conhecidas e reconhecidas por Noé não surge como uma conjetura para o crédulo na revelação divina. Mas se concebe que qualquer mente filosófica deva chegar à mesma conclusão independente de qualquer outro fator que não seja a pura razão.
O sentimento religioso, até atualmente ao menos, no que se refere à crença da existência de Deus, parece estar em algum sentido inato ou instintivo e consequentemente universal, imbuído na mente humana. Não há registro de qualquer nação, no entanto, intelectual e moralmente rasa, que não tenha dado algum indício de uma tendência para tal crença. O sentimento pode ser pervertido, a ideia pode ser grosseiramente corrompida, mas não obstante existe e evidencia a fonte de onde se origina.
Mesmo nas formas mais degradantes de fetichismo, onde os incivilizados se ajoelham em temor reverencial diante do santuário de algum ídolo tosco e disforme que talvez tenha sido feito com suas próprias mãos. O ato de adoração, degradante como a questão possa vir  a ser, é, no entanto, um reconhecimento do necessário desejo do adorador  de contar com o auxílio de algum poder desconhecido superior a seu próprio âmbito. E este poder desconhecido, seja ele qual for, é para ele um Deus.
Como tal, tem sido universal a crença na imortalidade da alma. Isso decorre do mesmo desejo do homem para com o infinito, e embora, como doutrina ancestral, tem sido pervertida e corrompida, ainda perdura entre todas as nações a tendência para sua crença. Todas os povos, desde os tempos mais remotos, tenderam involuntariamente para o ideal de um outro mundo tentando encontrar um lugar para os espíritos dos mortos. A deificação e culto aos mortos, sábios ou heróis foi à evolução seguinte da ideia religiosa depois do fetichismo, era simplesmente um reconhecimento da crença em uma vida futura, pois o morto não poderia ter sido divinizado após seu fim, a menos, que eles tenham continuado a viver de algum modo. A adoração de um cadáver pútrido teria sido de alguma forma um fetichismo mais baixo e degradante do que qualquer outro que se tenha conhecimento. Mas o culto humano adveio após o fetichismo. Era um desenvolvimento maior do sentimento religioso, e implicou numa possível esperança para nada menos que uma positiva crença numa vida futura.
Razão esta que, assim como uma revelação, leva à conclusão irresistível de que essas duas doutrinas se preservaram entre os descendentes de Noé após o Dilúvio. Acredita-se também, que toda a sua pureza e integridade foram preservadas, já, que elas foram obtidas a partir da fonte mais elevada e pura possível.
 Estes são os ensinamentos que ainda constituem os preceitos da Maçonaria, e, portanto, um dos nomes imputados aos maçons desde os primeiros tempos foi o de "Noaquitas" ou "Noachidæ " isto é, os descendentes de Noé (Noah) e os transmissores de seus princípios sagrados.
- Albert G. Mackey (The Symbolism of Freemasonry)
A TRADIÇÃO NOAQUITA E O OFÍCIO
Quando Seth, filho dileto de Adão, recebera título de Primeiro Maçom por sua descendência erigir às primeiras Colunas[1] sagradas para registrarem os conhecimentos da época, além de principiarem invocações o nome de Deus, a Ofício da Maçonaria[2] tornou-se o símbolo da construção do edifício social que é o gênero humano[3]. Seth gerou a Enosh, que gerou a Cainã, que gerou a Maalalel que gerou a Jared, que gerou a Enoque, que gerou a Matusalém que gerou a Lamech, que gerou a Noé.
Por isso os ascendentes e descendentes de Noé, estão geralmente conectados a alguma da lenda do Ofício, pois segundo a Tradição Maçônica mais antiga, Noé foi escolhido por Deus para reformar o Edifício Social Terreno, da mesma forma que Moisés instituiu a ideia da Fraternidade Terrena[4].
Atualmente é a ideia de uma grande inundação ou dilúvio de proporções mundiais passou a ser mais facilmente aceita. Este evento não seria uma mera alegoria bíblica, mas algum tipo de evento climático e/ou geológico. Além disso, diversas outras tradições antigas fazem referências a tal evento de consequências tão drásticas e marcantes a humanidade[5].
Muitos historiadores acreditam que as informações sobre o dilúvio, contidas na Bíblia, foram copiadas de tradições mesopotâmicas. Existem lendas muito antigas (e mais remotas que a própria Bíblia), que falam de um rei babilônico, chamado Utmapishtin, que durante o dilúvio havia construído uma grande arca e nela se encerrou com sua família, servos, artesãos além de um grande rebanho de animais. Sua arca flutuou por dias a fim e finalmente aportou no cume de uma montanha. Nessas lendas fala-se também da pomba e do corvo que ele teria soltado para se certificar se as águas do dilúvio haviam baixado.
Uma tese divulgada pelo alquimista Fulcanelli, sustenta que a Arca de Noé, na verdade, é um lugar onde as pessoas teriam se refugiado para resguardarem-se das águas do dilúvio. Seria um local de grande altitude, provavelmente nos picos de uma cadeia montanhas familiares, e que esse período de refúgio teria durado por cerca de dois séculos.
Segundo James Anderson, o primeiro homem a receber o título de Maçom que teria sido Seth, terceiro filho de Adão,  que junto a sua descendência teria laborado as primeiras obras em honra a Deus.
Tais obras simbolizam o labor maçônico da construção do Edifício Social, qual habitaria Deus. Tal referido Edifício, seria o próprio gênero humano, que segundo a tradição bíblica, foi reconstituído a partir dos descendentes de Noé. Seus filhos Sem, Cam e Jafet deram origem aos Semitas (os povos do Oriente Médio) aos Camitas (povos da África) e aos Jaféticos, também conhecidos como arianos.
Por isso que os Maçons Operativos antes da reforma institucional fomentada por James Anderson costumavam eventualmente chamar a si mesmos de Noaquitas. Professavam uma Lenda segundo a qual os filhos de Noé, Sem, Cam e Jafet, após a morte do patriarca, desejosos de descobrir o segredo pelo qual seu pai tornara-se predileto o Deus, foram ate a sua tumba e exumaram o seu cadáver. Vendo que o corpo estava quase decomposto, pegaram-no pelo dedo, atestando que sua carne se desprendia dos ossos e seu cadáver putrefava. Depois o levantaram ombro contra ombro, cotovelo contra cotovelo, pé contra pé, peito com peito, face com face, mãos nas costas e gritaram “Oh! Senhor meu Deus!”. E depois de testemunhar que ainda havia tutano nos ossos, concordaram que deviam dar ao acontecido uma palavra-código. Essa ritualística seria reencenada após o assassínio do próprio Hiram com o seu corpo, ou ao menos, reaproveitada na elaboração de sua Lenda, e representa a passagem do Companheiro para Mestre nos graus maçônicos.
Conta-se que os descendentes de Noé, não confiando plenamente na promessa de Deus expressa através do arco-íris, de que não haveria outro Dilúvio sobre a terra, intentaram construir uma torre para se abrigarem, caso ele resolvesse castigar novamente a humanidade por esse meio.
A partir dessa Torre[6] desenvolveu-se uma cidade, onde seu rei Ninrod, “poderoso caçador perante o Eterno”, segundo a Bíblia, começou a fazer a distinção entre os homens, atribuindo a cada um seus direitos e deveres. A essa cidade ele chamou de Babel, pois essa era a comunidade de todos os povos. Em outras tradições, a Torre de Babel ainda aparece como um santuário principiado antes do Dilúvio que visaria alcançar os céus.
O que se pretende, no entanto, no ensinamento desta Lenda, é alertar o Iniciado contra os sentimentos de arrogância, malícia, infidelidade, vaidade e orgulho. Por isso as referencias á Torre de Babel, tendo em vista que tradicionalmente ela é vista como sendo um monumento erguido para dar vazão ao sentimento de orgulho e vaidade dos homens. A outro exemplo bíblico similar, aludem às cidades de Sodoma e Gomorra, símbolos da corrupção, perfídia e arrogância humana que foram por isso mesmo, destruída por Deus.
Já houve o tempo em que essa primazia dos ensinamentos maçônicos, como observado no Poema Regius, cabia á “Torre de Babel” (em detrimento ao Templo de Salomão), sendo o rei Ninrod[7] e não Salomão, o primeiro monarca a patrocinar a Maçonaria Operativa. Diz-se que foi aquele rei que primeiro dividiu os trabalhadores da construção em aprendizes, companheiros e mestres, criando palavras de passe, toques e outras formas de distinção entre suas graduações.
O DILÚVIO[8]

O Torá judeu (o Pentateuco do Velho Testamento da Bíblia cristã) contém duas versões do Dilúvio, cada uma contando uma história parecida, mas significativamente diferente quanto ao relato de Noé e de sua Arca. Acredita-se que as histórias se originem de duas tradições orais diferentes que foram identificadas como próprias de todo o Torá. Essas tradições foram separadas por estudiosos que as identificaram como a tradição de J (Javé), a tradição E (Elohim) e a tradição P (Pastoral). Dizem que a tradição J tem sua origem no sul de Israel, a tradição E, no norte e a tradição P, no Exílio.
Há diferentes opiniões quanto à duração da inundação, mas o mais importante é que J afirma que a chuva foi à causa do Dilúvio, enquanto P diz que "fontes da profundeza" surgiram e invadiram a terra antes da chuva começar. Essa fundamental diferença na causa do Dilúvio pode ser uma dissonância no relato da história, mas é possível que as duas versões estejam corretas, porque provêm de testemunhas que presenciaram ocorrências de diferentes pontos. As duas tradições orais foram combinadas em uma única história cerca de 3 mil anos atrás, portanto parece bem provável que foram originadas por fontes diversas. Se elas provêm de relatos proporcionados por testemunhas oculares fundamentalmente diferentes, as pessoas envolvidas deviam encontrar-se em locais bem afastados uns dos outros, uns mais ao interior que os outros. Segundo a tradição J, o Dilúvio durou 40 dias, enquanto a tradição P diz que durou 150 dias e é a única a nomear o lugar onde a Arca veio a aportar.
A história do Dilúvio consta no Livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, que explica a origem do homem. Começa dizendo como Deus fez o mundo e depois criou Adão e Eva, que logo caíram em desgraça e foram expulsos do Jardim do Éden. Em seguida, conta a história dos irmãos Caim e Abel, e apresenta uma genealogia de Adão até Noé. Depois, em Gênesis 6:4, há um estranho relato a respeito de um cruzamento entre uma raça descrita como "os filhos de Deus", e mulheres humanas, “as filhas do Homem”.
Nesse tempo, isto é, quando os “filhos de Deus” se uniram com as “filhas do Homem” e geraram descendência, os gigantes[9] que habitavam a terra. Esses foram os heróis famosos dos tempos antigos. Essa breve passagem é a primeira de muitas referências hebraicas antigas que registram que, em certa época, acreditava-se amplamente que os filhos do cruzamento entre essa raça desconhecida chamada "Guardiões" e mulheres humanas foram gigantes, tornando-se figuras reinantes no passado distante.
Depois, o Gênesis diz que Deus decidiu punir a humanidade, entretanto avisa Noé do Dilúvio vindouro e o instrui para construir uma Arca de madeira de cipreste que o transportaria com sua família, assim como um casal de cada espécie de animais. Segue, então, a descrição do Dilúvio que erradica a vida na Terra.
De acordo com a tradição P, as dimensões da Arca eram de 300 x 300 x 30 côvados e consistia de três andares, também informa que o ponto onde ela aportou após que as águas baixarem, o Monte Ararat, em Urartu, conhecida hoje como Armênia. Essa região extremamente montanhosa ao leste da Turquia tem uma elevação média de quase 1.800 metros e o Monte Ararat encontra-se no ponto mais alto, mais de 4 mil metros acima do nível do mar. Se essa descrição estiver correta, a Arca só pode ter sido levada para essa região elevada por uma imensa onda oriunda da direção do Oceano Índico. O caminho percorrido deve ter sido pelo Golfo Pérsico e para noroeste através das planícies da Mesopotâmia.
Se for assumido que haja alguma verdade nessa história, ela sugere que a Arca foi atingida pela onda em algum lugar bem elevado das Montanhas de Zagros, acima da região que mais tarde ficou sendo conhecida como Suméria, e foi levada em linha reta até a onda perder potência.
A ARCA

O documento catalogado como lQapGen dos Manuscritos do Mar Morto, conhecido como “Contos dos Patriarcas”, agrega maiores detalhes à história do Dilúvio. É dito que o personagem chamado Enoch estava envolvido com Lamech e Noé. Nomes conhecidos em meio a Tradição os Rituais Maçônicos, assim como na Bíblia. Aparentemente, Lamech estava preocupado com o "comportamento glorioso" de seu filho Noé, e suspeitava que sua mulher tivesse sido germinada pelos “Guardiões[10], sendo Noé o resultado de tal relação. Lamech decide consultar seu pai, Matusalém, sobre essa questão, que possua vez a leva ao conhecimento de Enoch.
Matusalém indaga ao pai sobre Noé e Enoch lhe conta como os Guardiões desceram do céu para relacionar-se com mulheres humanas, mas que Noé não tinha nascido dos “filhos de Deus”, mas sim de Lamech.
A história então continua para dizer como Noé era o mais correto dos homens e, por conseguinte, seria dado a ele o domínio sobre toda a Terra após o Dilúvio. Em seguida, a história é assumida por Noé, que conta como pousou em um vinhedo no Monte Ararat depois da inundação.
Enoch (cujo nome quer dizer “iniciado”, “dedicado” ou “disciplinado”) era detentor de muitos conhecimentos e talentos os quais lhes foram transmitidos por intermédio divino, além disso, eventualmente tinha sonhos sobre o futuro. Durante um desses sonhos, Enoch conheceu o verdadeiro Nome de Deus, que lhe foi proibido de revelar, e noutro, foi-lhe conhecido o cataclismo que em breve assolaria a humanidade e que seria denominado como o Dilúvio. Enoch, então, decidiu preservar de catástrofe o verdadeiro Nome de Deus, fazendo-o gravar em uma Pedra Triangular (ou Delta) de ágata em certos caracteres sagrados. Enoch construiu um templo debaixo da terra, consistindo em nove abóbodas, sustentadas por nove arcos, depositando na mais profunda, o triângulo de ágata e na entrada da primeira, duas Colunas, fechando a entrada com uma grande pedra quadrangular, provida de uma argola de metal no seu centro para que pudesse ser removida[11].
Enoch também gravou em outras duas Colunas[12], sendo uma de mármore e outra de bronze, os princípios em que se baseavam as ciências e artes da época a fim de que também fossem herdados pelas próximas gerações. Por fim, Enoch instruiu a seu filho Lamech para que em seu nome revelasse a Noé (seu neto) a vindoura catástrofe que se abateria sobre a humanidade. Noé então, também por intermédio divino passa a construir uma Arca segundo instruções sagradas, Arca que serviria como plataforma onde ele e sua família se resguardariam das águas que perdurariam por 40 dias. Tais instruções seriam reproduzidas na Arca da Aliança, pelo seu formato e medidas, portanto, também eram as especificações da sessão interna do Templo de Salomão, e mais especificamente, do "Sanctus Sanctorum", por conseguinte são as especificações para a construção das Lojas Maçônicas.
O material com qual foi confeccionado a Arca da Aliança teria sido “madeira de acácia e ouro”, entretanto, a acácia, é uma árvore de dimensões relativamente pequenas e certamente, inviáveis para construir obra de tal magnitude como a Arca de Noé. Essa Arca teria as suas medidas aferidas por Deus: "Faze uma Arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento de cinquenta a largura e a altura de trinta..." (Gênesis 6:14-15).
A construção da Arca,  devido a sua magnitude e dificuldades técnicas adversas, obviamente, deve ter levado bastante tempo, pois, apenas Noé e sua família naquela região, creram no que Deus havia instruído. A Arca de Noé, após iniciado o Dilúvio e o crescimento das águas, suportava, além da espécie humana, a espécie animal como vem descrito em Gênesis 6:18-22: "Contigo, porém, estabelecerei a minha Aliança; entrarás na Arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos, De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na Arca para os conservares vivos contigo; das aves, segundo as espécies, de todo réptil da Terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo de tudo o que se come, ajunta-o contigo, ser-te-á para alimento, a ti e a eles".
As espécies mencionadas, possivelmente, seriam, apenas, as existentes naquela região, também, por outro lado, não há menção a destruição dos homens gentios, ou seja, aqueles que não pertenciam à família de Noé. Embora os filhos de Noé tivessem casado com as filhas da Terra que eram formosas, consequentemente não haveria uma destruição total das espécies humana e animal.
Então, filhos e filhas descenderam de Noé depois do Dilúvio. Para Sem, o filho mais velho, nasceu primeiro Arparchad, dois anos depois do Dilúvio. Todos os filhos de Sem foram Elam, Ashur, Arparchad, Lud, Aram e cinco filhas. Além disso, os filhos de Cam foram Cush, Mizrain, Put, Canaã e sete filhas. Os filhos de Jafé foram Gomer, Magog, Madai, Javan, Tubal, Moshok, Tiras e quatro filhas.
Tendo em conta as impossibilidades ou incongruências quanto relativas à narrativa noaquita (apesar da persistência de evento similar em outras culturas além de certas evidências que sugerem tal dilúvio), a Arca se constitui, sobretudo, em uma alegoria.  Tal narrativa deve ser observada mais pelo ensinamento simbólico que pela veracidade histórica, e tal simbolismo é especialmente trabalhado num certo grau da Tradição Maçônica.
O GRAU NOAQUITA

Os trabalhos do Grau Noaquita desenvolvem-se em uma Câmara que representa uma paragem remota, seu momento é o da lua cheia (e suas sessões são realizadas de 28 em 28 dias como os ciclos lunares) que provém a iluminação a tal Câmara através de uma janela. A hora do início dos trabalhos na Oficina é quando a Lua aparece e a do encerramento, quando o Sol está por surgir.
O Trono do Presidente é coberto por um tecido negro. Defronte ao Dossel vê-se um Triângulo de prata atravessado por uma flecha dourada e no solo estão espalhados às ruínas e escombros de um edifício desmoronado.
Os presentes carregam ferramentas diversas apropriadas à construção, e o Presidente empunha um "cabo de trolha", o local onde se reúnem denomina-se de Grande Capítulo.
A Cerimônia desse Grau relaciona-se com a história da salvação de Noé na Arca, a construção da Torre de Babel, o trágico destino de seu Arquiteto e o descobrimento de uma Coluna que em caracteres sumérios tinha gravada a história da construção da Torre e o arrependimento de tal Arquiteto.
O desenvolvimento deste alicerça-se no combate ao orgulho, à vaidade e ao egoísmo. São feitas aos Candidatos nove perguntas qual o Ritual dá respostas:
1ª Pergunta: Qual é a paixão que mais se opõe ao reinado da Igualdade e da Justiça?
2ª Pergunta: Qual a diferença entre a vaidade e o orgulho?
3ª Pergunta: Qual a distinção entre o orgulho e o egoísmo?
4ª Pergunta: O orgulho é o pai do egoísmo?
5ª Pergunta: O que significa a Humildade?
6ª Pergunta: Qual é o sentimento contrário ao orgulho?
7ª Pergunta: Qual a distinção entre desejo e paixão?
8ª Pergunta: Se as paixões não passam de desejos exagerados nascidos dos instintos, sentimentos e dons concedidos pelo Grande Arquiteto do Universo para nossa conservação e a de nossa espécie, não haveria uma maneira de fazer com que cada paixão se convertesse em Virtude?
9ª Pergunta: Se a Natureza produziu o homem bom e a educação defeituosa é que o torna mal, quais as Leis que proporeis para que cada um possa conhecer seus deveres e direitos, dominando suas paixões?
Uma história tradicional desse grau conta como Deus fez com que Peleg ficasse mudo por tentar construir uma torre até o céu quando trabalhava como arquiteto-chefe de Ninrod. Dizem que Peleg era um descendente de Noé.
Ninrod foi o personagem do Gênesis, descrito como "o primeiro potentado sobre a Terra", e como neto de Noé. Dizem que ele foi um edificador de impérios cujos domínios incluíam grandes áreas do Sul da Mesopotâmia. Alguns estudiosos identificam Ninrod como Gilgamesh. A história desse ritual é contada nesse grau por um oficial da Loja chamado Cavaleiro da Eloquência:
Que todos os maçons saibam que, apesar da recente vingança de Deus, devido às iniquidades da humanidade, por meio de um dilúvio universal, e apesar de Deus ter proporcionado o arco-íris em sinal de reconciliação, garantindo o favor declarado de que o mundo não seria novamente destruído pela água. Os descendentes de Noé, por sua falta de fé na providência divina e apreensivos por um segundo dilúvio, disseram “Vamos construir uma cidade, cujo pico alcance os céus, e vamos dar-lhe um nome para que não sejamos espalhados em toda a face da Terra”. Para realizar seus intentos, eles começaram a erigir uma alta torre na planície de Sinar, mas esse empreendimento não agradou a Deus, pois tendia a frustrar ou atrasar a execução de seu próprio projeto. E, para que a humanidade não se mantivesse sempre junta, os obrigou a descontinuar aquele projeto confundindo sua linguagem, de forma que ninguém se compreendia. Dessa circunstância, a cidade assumiu o nome de Babel, que significa confusão, e assim iniciou-se a dispersão das pessoas e o estabelecimento de nações. Foi em uma noite de Lua Cheia que o Deus realizou essa obra, em memória da qual os noaquitas guardam suas Lojas nesse momento.
O arquiteto da obra chamava-se Peleg, ou pelo menos foi ele quem havia fornecido a ideia dessa construção. Como castigo dessa contumácia e a presunção de seus irmãos, ele foi privado da palavra, e para evitar os ultrajes de seus companheiros que o consideraram a causa do fracasso do projeto, ele viajou para terras longínquas a Sinar, fez isso durante a noite temendo se atacado, caso fosse reconhecido. Seu lugar de retiro foi a Prússia, onde erigiu uma morada triangular. Por sua humilhação e contrição pelo  ocorrido que o envolveu na Planície de Sinar, obteve a remissão de seus pecados e a palavra lhe foi restaurada. Essa morada de Peleg foi descoberta a 15 cavados de profundidade da superfície da terra, no ano 553 a.C.
DE NOÉ A HIRAM
É importante notar o valor dado à narrativa noaquitas pelos primeiros Maçons Especulativos, o próprio James Anderson em sua Constituição já evidencia tal fato:
Um Maçom é obrigado na sua dependência a observar a Lei Moral como um verdadeiro Noaquita, e se entendeu corretamente o Ofício, nunca será um estúpido descrente, nem um libertino irreligioso, nem agirá contra a sua Consciência. Nos tempos antigos os Maçons cristãos eram obrigados a concordar com os usos cristãos de cada país por onde viajavam ou trabalhavam, mas sendo a Maçonaria fundada em todas as Nações, mesmo as que praticam várias religiões, são eles agora unicamente obrigados a aderir àquela religião na qual todos os homens estão de acordo (cada Irmão vivendo em sua própria e particular opinião), que é a de serem homens bons e sinceros, homens honrados e probos, quaisquer que sejam as denominações, religiões ou crenças que possam distingui-los, por estarem todos de acordo com os três grandes artigos[13] de Noé, que são suficientes para preservar o Cimento da Loja. Assim a Maçonaria é o Centro de sua União e o Feliz Meio de conciliar pessoas que teriam ficado perpetuamente separadas.
Ao saírem da arca, Deus estabeleceu com Noé e seus filhos uma aliança que envolvia a observância de sete leis básicas conhecidas como Leis Noaquitas, obrigatórias a toda humanidade[14], as Sete Leis de Noaquitas são:
 1. Não cometer idolatria;
 2. Não assassinar;
 3. Não roubar;
 4. Não cometer imoralidades sexuais;
 5. Não blasfemar;
 6. Não maltratar aos animais;
 7. Estabelecer sistemas e leis de honestidade e justiça.
Noé ainda figura em um antigo e importante documento maçônico,  uma Antiga Obrigação ou Old Charge conhecida como o “Manuscrito Graham” onde acontece uma ritualística post-mortem tal qual ensinado, foi realizado com Hiram Abiff: 
É sabido pela Tradição, e também por referência às Escrituras, que dizem que Sem, Cam e Jafé, desejosos de chegar junto à tumba de seu pai Noé, trataram de ver se poderiam encontrar ali algo suscetível de lhes conduzir ao segredo do poder detido por esse famoso pregador. De fato, desejo que todos venham, a saber, que todas as coisas necessárias ao mundo novo se encontravam na Arca junto a Noé.
Pois bem, estes três homens já tinham acordado que, se não encontrassem o que procuravam, o que primeiro encontrassem deveria lhes servir como segredo. Não duvidavam, mas sim acreditavam muito firmemente que Deus tinha o poder, e também manifestaria sua vontade por meio de sua fé, oração e obediência, de maneira que aquilo que encontrassem se mostraria ante eles tão potente como se tivessem recebido o segredo original do próprio Deus.
Chegaram então à tumba, onde não encontraram nada mais que o cadáver quase inteiramente decomposto. Quando puxaram-lhe por um dedo, este se desprendeu falange por falange, e o mesmo ocorreu com o punho e com o cotovelo. Então levantaram o cadáver e o sustentaram, pondo pé contra seu pé, um joelho contra seu joelho, o peito contra seu peito, uma face contra sua face, e uma mão em suas costas, e ficaram a rogar: Ajuda, Oh Pai, como se dissessem: Oh, Pai do céu, nos ajude agora, porque nosso pai terrestre já não pode fazê-lo.
Então, deixando de novo o cadáver, e não sabendo o que fazer, um deles disse: Há medula neste osso[15], e o segundo disse: Mas é um osso seco, e o terceiro disse: ele putrefaz. Ficaram de acordo então para lhe prestar uma  palavra que fora conhecida pela Maçonaria até estes dias. Depois, se detiveram a seus assuntos e a partir de então suas obras foram boas. É por isso se deve acreditar, mas também compreender, que seu poder não vinha do que encontraram ou da palavra que lhe prestaram, mas sim de sua fé e de sua oração. As coisas se sucederam desde modo, e a vontade deu firmeza à ação.
            Se for levado considerado que tanto Noé quanto Hiram possuam algum grau de validade histórica, é possível inferir qual tal cerimônia ou rito de passagem com o corpo do morto a fim de transmitir seus conhecimentos (ou palavras) perdidos deve ter origem Antediluviana. Sem, Cam e Jafé a aplicaram em Noé a fim de que se perpetuasse a Tradição assim como Johaben, Stolkin e Zerbal fizeram com Hiram.
Ou se considerarmos ambas as histórias como de cunho puramente alegórico, podemos inferir que esse elemento da narrativa sobre Noé foi enxertado na Lenda do Assassínio de Hiram a fim de sinalizar a importância e pertinência do nobre patriarca noaquita e seu exemplo de perseverança e retidão para a Tradição Maçônica...



Autoria de Tiago Roblêdo M\ M\
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REFERÊNCIAS
A Máquina de Uriel, Christopher Knight e Robert Lomas
Rito Escocês Antigo e Aceito Loja de Perfeição, Rizzardo da Camino
Mestres do Universo: A Maçonaria dos Graus Superiores, João Anatalino Rodrigues


[1] As Colunas dos filhos de Seth são dois pilares que teriam sido criados pelos descendentes de Seth e nas quais foram inscritas descobertas científicas, invenções, principalmente no campo da astronomia. Tal feito repete-se nas Tradições Maçônicas por autoria de outros personagens como Enoch. Tais construções sagradas se oporiam a Primeira-Cidade, erigida por Caim e batizada com o nome de seu filho Enoch (personagem distinto daquele da linhagem de Seth) como forma de afrontar a Deus que o teria condenado ao nomadismo.
[2] Aqui no sentido de arte, ciência ou ofício que interliga os aspectos operativos e especulativos nas suas construções.
[3] O filho de Seth chamado Enosh (“homem mortal” ou “ser humano”) sugere uma alegoria à paternidade da própria humanidade (Enoshut) a este personagem. Nos tempos de Enosh é dito terem se iniciado as invocações ao nome de Deus (Gênesis 4:26).
[4] Ou seja, a nação de Israel.
[5] Os livros sagrados da índia e dos povos mesopotâmicos mencionam esse fato. Na tradição vedanta, Noé é chamado de Vaisaswata ou Satiavrata. Nas lendas gregas ele é Deucalião. Os caldeus o chamavam de Xi-xouthros e os chineses de Fo-ki. Nas lendas americanas ele era Bochica, “o que se salvou das grandes águas.”.
[6] Historicamente, acredita-se que a chamada Torre de Babel seja um dos “zigurates”, torre que os sacerdotes caldeus costumavam construir para fins de observações astrológicas. A religião dos israelitas condenava a prática da astrologia e da astronomia, razão pela qual ela foi estigmatizada na lenda da Torre de Babel.
[7] Ninrod por muito vezes é identificado como o nome bíblico para Gilgamesh, descendente de Utmapishtin.
[8] De maneira geral, acredita-se que as versões da história do Dilúvio no Velho Testamento estejam intimamente relacionadas com as histórias mais antigas da Babilônia e da Suméria. A visão padrão é que a história de Noé foi apreendida diretamente das histórias da Babilônia, ou então ambas foram originadas de uma mesma fonte.
[9] Os Nefilim ou Giborim.
[10] Seres também conhecido como “Vigilantes”, possivelmente foram Elohim (seres celestiais da cultura judaicas) que se renegarem a passaram a coabitar com as “filhas do Homem” dando origem a raça dos gigantes.
[11] Posteriormente tal Templo e fragmentos de seu conteúdo seriam encontrados durante a construção do Templo que Salomão que seria erigido sob o mesmo local.
[12] Das Colunas gravadas por Enoque, apenas a de bronze chegou à posteridade, pois a de mármore foi destruída pelas águas. Nenhum ser humano podia pronunciar o Nome verdadeiro de Deus, antes que fosse revelado a Moisés, no Monte Sinai.
[13] Entre as sete leis noaquitas, as três são particularmente essenciais: proibição de render culto aos ídolos, respeito absoluto pelo nome divino e proibição de derramar sangue.
[14] Posteriormente, os judeus seriam separados como povo sacerdotal e guardião da Torá, e por isto mesmo sujeito a outros mandamentos além das Sete Leis de Noaquitas.
[15] Em inglês “Marrow in this bone”, em alusão a palavra de mestre.
 
Fonte:
http://pedraoculta.blogspot.com.br/2013/11/o-diluvio-sobre-pedra-o-hiram-da-arca.html